Coordenadora do Disque Direitos Humanos da SIRDH, Franciara Rosa de Araújo foi mãe aos 14 anos e conta sua experiência na superação de desafios
“A mulher, ela resiste muito. A mulher é forte, ela é guerreira. Mas acredito que a gente tenha que tirar esse peso de mulher guerreira. Entender que a mulher precisa ser cuidada, amada e respeitada”. A declaração é da formanda em Pedagogia Franciara Rosa de Araújo, que atua como coordenadora do Disque Direitos Humanos na Subsecretaria Municipal de Igualdade Racial e Direitos Humanos (SIRDH). Franciara é uma das mais de 14 mil servidoras que compõem o quadro de profissionais da Prefeitura de Campos e sentem na pele os sabores e dissabores que permeiam o universo feminino.
“Tem uma família, e a mulher é aquele pilar. E aquele pilar está sempre ali. A mulher que cozinha, ela que lava, ela que cuida de toda a família. Mas quem cuida daquela mulher? Eu vou falar por mim, porque sou mãe solo. Eu cuido de todo mundo. E quem cuida de mim, sabe? Por isso que eu falo. A gente tem que tirar essa ideia de mulher guerreira e colocar no de uma mulher que tem que ser respeitada. Porque enquanto a gente ficar romantizando essa questão de mulher guerreira, ninguém vai entender que ela também tem que ser cuidada. Então, não vejo o 8 de Março só como resistência, mas como ser tratada com respeito, com amor, com muito carinho”, declarou Franciara.
Com 30 anos de idade, Franciara conta sua experiência de vida, que contabiliza ser mãe aos 14 e ingressar no mercado de trabalho cedo para dar conta de seus compromissos. “Hoje eu consigo entender muita coisa que eu achava que era normal antes. Ser mãe com 14 anos é uma experiência que eu não romantizo, embora eu tenha passado por essa fase, que foi uma fase da minha vida, a qual foi necessária para mim, para o meu amadurecimento. Mas eu não romantizo, não é normal uma menina de 14 anos ser mãe. Eu não sabia nem o que era ser mocinha, nem nada, quando eu engravidei. E eu simplesmente não fui mãe, porque a minha mãe foi mãe da minha filha. E aquilo ali eu meio que fui perdendo esses primeiros anos de vida da minha filha. Foi como se ela fosse a minha irmã e não a minha filha”, contou.
Foi quando sua primeira filha completou 4 anos que Franciara tomou as rédeas para si. “Eu comecei a fazer curso de design de sobrancelhas e de maquiagem, e comecei a trabalhar a domicílio. E nisso eu comecei a tomar meu rumo”, comentou, ao lembrar que também passou em uma prova de Jovem Aprendiz do Senai, que fez com que outras portas se abrissem.
E mesmo trabalhando, ela não deixou os estudos totalmente de lado. “E daí eu vim trabalhando, mas, graças a Deus, sempre gostei muito de estudar. Como a minha filha era nova, eu fiquei um ano sem conseguir estudar, mas graças a Deus terminei meus estudos. Foi quando eu decidi que eu queria muito fazer vestibular, queria muito fazer faculdade”, disse.
O ingresso em um curso superior aconteceu aos 26 anos e atualmente ela está no último período do curso de Pedagogia do Instituto Superior de Ensino Professor Aldo Muylaert (Isepam).
Nascida em Campos, Franciara mora na Penha há 14 anos. Hoje, ela tem duas filhas, uma de 16 anos e outra de 6. Sobre o futuro, ela deseja se consolidar em sua profissão e alçar novos voos. “A Franciara quer um futuro bom, de qualidade de vida, que eu possa proporcionar para os meus uma boa vida, com excelência. Quem sabe um dia me tornar a marinheira que eu sempre quis. Eu não consigo pensar em muito, porque eu acredito que, hoje, eu esteja caminhando para tudo isso que eu almejo muito”, comentou.
Preconceito
Em seu dia a dia na coordenação do Disque Direitos Humanos da SIRDH, Franciara percebe que as mulheres são as que mais sofrem preconceito e violência. “A mulher, ela sofre o preconceito, sofre o racismo e principalmente a invalidação, em qualquer tipo de violação. As pessoas têm a mulher como sexo frágil, embora isso, para mim, não seja uma realidade. Mas, se tratando de violência, a mulher que sofre realmente com a violência”, comentou.